domingo, 22 de janeiro de 2012

Quando se opta pelo medo

      João gostava de Luiza, que gostava de João. É, simples assim. A Luiza não gostava do Pedro, que gostava da Camila, que gostava do Ricardo, que gostava do João do começo da história. Ou que era um solteirão convicto que já tinha feito sofrer a Luiza, a Camila, a Ana Paula e a Patrícia. Não. A coisa era realmente bem simples: João gostava de Luiza, que gostava de João. Bom, era pra ser simples, né? Mas não foi bem assim. 
      É que o João tinha medo. Tinha medo da Luiza. Pensava nela o dia inteiro, no seu jeito de rir, na fita que ela usava no cabelo... Mas quando não estava fantasiando em como esse amor seria bom se ele não tivesse medo, estava pensando nas 35 formas de fora que ela daria nele se ele chegasse nela. Sonhou 27 vezes com o olhar de desprezo que ela lhe daria. Pensou por tardes inteiras em todas as palavras avassaladoras que ela diria a ele. E em como riria da cara dele. Ou simplesmente lhe daria um belo tapa na cara e sairia correndo. João tinha tanto medo de Luiza que não percebia o quanto ela gostava dele. 
      Certo dia de abril, João acordou decidido a vencer o medo. Penteou o cabelo pra trás, colocou seu all star azul e comprou uma rosa do seu amigo florista que o ouvia desabafar suas desilusões desde muito tempo. Foi até a casa de portão de grade e ficou em frente a janela dela. Então olhou pra si mesmo e sentiu vergonha. Se achou ridículo! O que ela iria pensar quando o visse ali parado com uma rosa na mão? E de all star? O que ele ia falar? Ia começar a gaguejar, ela faria aquela cara de desprezo e fecharia a porta correndo. Não, não ia se humilhar dessa forma. Quem é que se sujeita a esse tipo de situação? João foi embora. João tinha medo.
      Luiza não aguentava mais esperar pelo belo dia em que João iria aparecer na porta de sua casa, com aquele all star azul que ela gostava tanto, com aquele jeito sem graça e meio gaguejando, e dizer pra ela o quanto a amava. Mera ilusão. Ela sempre achou que João a achava estranha, e por isso fugia dela. Será que ela cheirava mal? Ou se vestia de um jeito engraçado com aquela fita no cabelo? "O que ele iria pensar se soubesse o quanto gosto dele? Ia me achar ridícula, com certeza". 
      O tempo passou... Meses, anos. Luiza já não tinha mais esperanças em João. Já tinha sofrido demais. Estava cansada de vê-lo passar reto por ela, nunca responder suas mensagens, nunca aceitar seus convites para as festas que fez em sua casa, olhá-la daquele jeito estranho, com algo escondido no olhar... Estava machucada por achar que ele pudesse a odiar tanto assim. Decidiu seguir em frente. Não que essa seja uma decisão tão fácil de ser posta em prática, mas, como eu disse, o tempo passou. 
      Apareceu o Carlos, que não tinha medo de Luiza e nem de mulher nenhuma. Carlos conquistou o seu coração, lhe deu segurança, lhe declarou todo o seu amor. Carlos era um cara ótimo! Já que o João nunca ia gostar dela, Luiza achou que era uma boa oportunidade de esquecê-lo de vez. Começaram a namorar. 
      João disse para o seu amigo florista que estava certo desde o começo. Luiza nunca olhara pra ele e por isso agora estava com Carlos, que era tão diferente dele. Ele nunca teria chance. Teria se machucado se a tivesse chamado no portão aquele dia. "Viu? Eu estava certo!"
      O coração de João doeu todas as 52 primeiras vezes que viu Luiza e Carlos juntos andando de mãos dadas na sua frente. Então, ele também decidiu que era hora de seguir em frente. E o tempo passou. Luiza e Carlos se casaram e João engravidou a Thaís, sua amiga de infância que vivia pedindo uma chance com ele. Algum tempo depois, Luiza engravidou também. João e Luiza tiveram filhos no mesmo ano. Ele, uma linda menininha. Ela, um menino forte. 
      Cinco anos depois, os dois se cruzaram na rua enquanto voltavam pra casa depois de comprarem um presente para os filhos. Primeiro, pensaram em uma desculpa para desviar o caminho. Depois pensaram em fingir que não se conheciam. Mas concluiram que o melhor era uma rápida conversa de "como vai você? Bem! Nossa, e esse tempo?". Seguiram em frente depois, cada um para sua casa e para sua vida. João levava de presente para sua filha uma linda fita de cabelo. Luiza levava para o seu filho um pequeno all star azul.

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