segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Me diga de onde vens e eu te direi quem és

      É, não é bem assim o ditado, mas essa adaptação tem tudo a ver com o sentimento do dia. Parece que quanto mais a gente sabe de nosso origem, mais sabemos sobre quem nós somos. E isso nos capacita melhor a escolher de maneira consciente quem queremos ser e onde queremos chegar. 
      É como pegar um mapa. Você pode estar preocupado apenas tentando encontrar o seu destino. Mas é impossível traçar a rota se você não souber de onde veio e onde está. Tudo o que você vai conseguir é apontar um ponto no mapa, mas será incapaz de saber qual é o percurso. A primeira lacuna de todo "Google maps" que se preze é "origem: ___________". 
     Acho que com a vida funciona mais ou menos da mesma forma. Fica difícil planejar ou pensar em um futuro, ter sonhos, traçar metas e escolher alvos, se você não consegue ligar o ponto final até o ponto em que você está. E a melhor maneira de se encontrar é começar a procurar no "mapa" o lugar de onde você veio pra refazer o caminho e entender melhor quem você é. Será que tudo isso faz sentido pra você?
      Talvez você esteja se perguntando o motivo de eu estar dizendo essas coisas. Tudo bem, eu já vou explicar. É que aconteceu algo extraordinário! Extraordinário em dois sentidos: foi muito legal e foi totalmente fora do script. Meus pais estavam se desfazendo de uma espécie de armário que ocupa a nossa sala desde que eu me entendo por gente. Talvez desde que eles se casaram (e faz tempo, hen?). E aí muita coisa foi revirada. Algumas acabaram no lixo, outras foram doadas. Mas algumas serão guardadas com preciosidade. 
      Acharam coisas engraçadas como a colherzinha torta que minha mãe usava pra me dar papinha e uma carteira cheia de dinheiro falso que fazia minha felicidade quando eu era criança. Uma lousa que ainda continha minha última "aula" dada pra Marina, ou para os bonecos, quando eu já era professora muito antes de concluir as séries iniciais do Ensino Fundamental. Quem diria que eu iria acabar fazendo da brincadeira a minha profissão... 
     Mas NENHUMA dessas coisas foi tão gostosa de achar quanto a descoberta feita pela minha mãe. Ela encontrou um caderno antigo, com a primeira e a última folha rasgadas. Sem capa. Se recolheu com ele no fundo do quintal e ficou ali a tarde toda. No inicío da noite apareceu no meu quarto com o presente mais maravilhoso que eu já ganhei. O tal caderno era um diário dela. Sua primeira página data de 21 de janeiro de 1987, já de madrugada, quando ela, ansiosa, não conseguia dormir pensando que na manhã do dia seguinte faria o teste de gravidez. O teste que me revelou pela primeira vez. A data final do diário, na última folha do caderno, é 10 de março de 1988, quando eu já estava para fazer 6 meses. Entre uma data e outra, folhas e mais folhas repletas de uma história que é a minha história, linhas que guardaram todas as lágrimas que eu derramei emocionada ao me encontrar ali, ao reviver com meus pais todas aquelas emoções. É um sentimento indescritível! Inexplicável! Olha, eu AMO ler!! Desde antes de saber ler e fingia que sabia para inventar mil histórias para o meu irmão e o meu primo, apontando para os desenhos nos gibis. Nunca mais parei. São livros e mais livros por ano. Histórias sem fim. Mas esse diário foi o mais lindo que eu li. Esse diário é o começo da minha história.
      Foi extremamente emocionante acompanhar essa trajetória, ver a alegria, os temores, as dúvidas... Os preparativos, a escolha do nome, as idas ao médico... E naquela época, mesmo no 6º mês de gravidez a médica não sabia dizer ao certo o sexo do bebê. Minha mãe escreve que era um segredo de Deus e do nenê. Pode parecer bobo, mas me senti especial por guardar um segredo assim, que trazia tanta expectativa. Ela dizia no primeiro momento que sentia que era uma menina hihihi Muito legal ver toda a família na torcida. Meu pai entusiasmado. A luta para conseguir um emprego melhor, para comprar as coisas. Foi uma história deliciosa de acompanhar.
      E deu até medo em alguns momentos. Como quando eu me virei e me posicionei para nascer ainda em julho, mas estava em uma posição meio estranha. Minha mãe expressa sua angústia com a possibilidade de eu estar sofrendo de um jeito tão vívido, que juro que fiquei angustiada também, mesmo 24 anos e meio depois. Mesmo sabendo que ficaria tudo bem. Engraçado, né?
      Foi gostoso acompanhar a história dos meus pais. Acompanhar o meu nascimento, as primeiras contrações, a dor do parto (que medo!), a descoberta de que era uma menina! Ganhar um nome. Uma identidade. Ter registrado os primeiros sorrisos, a primeira doença, a primeira papinha, as primeiras palavras. O entusiasmo, alegria e amor dos meus pais a cada gracinha que eu fazia. Aprender a sentar. Estar atenta a tudo. Está tudo registrado pelo punho de uma mãe de primeira viagem que estava curtindo absurdamente tudo isso!
      Cada visita foi registrada. E é muito louco ver que eu conheci antes de ter dentes alguns dos amigos que tenho ainda hoje, e que não tinham dentes naquela época também.
      Sabe como é se sentir amado? Então, você pode achar meio bizarro ou idiota, mas foi assim que eu me senti acompanhando minha própria história. Vivendo emoções que já se foram, ressuscitando algumas das que já tinham morrido... Pensa em algo maravilhoso. Se sentir amado, querido, desejado só pode ser descrito como maravilhoso. E, nesse momento da minha vida, para mim foi crucial me sentir assim. Esse diário caiu dos céus no meu colo. Presente de Deus.
      E aí, parece que eu sei melhor sobre quem eu sou, porque eu conheço melhor a história da minha origem. Conheço um pouco mais a história daqueles que me geraram. Sei melhor meu contexto. Sei de histórias que já se tinham perdido no tempo e nas frustrações da vida. Isso me ajudou a me encontrar um pouco mais, a fazer mais um pedaço daquele traço no mapa que eu falei no começo. E o que acontece com quem anda com um mapa melhor traçado na mão? Tem mais segurança para seguir adiante. E é assim que eu me sinto hoje. 



Sugestão de música da Lilah para o post, diretamente de Fortaleza: Mapa-múndi (Thiago Pethit)

6 comentários:

  1. E eu?Sabe como me sinto??? Absurdamente feliz e grata ao nosso Deus que é Pai!Por ter te presenteado com o mapa que te trouxe tanta felicidade!Este motivo de felicidade é permanente!É fato que é amada e é fato que deve se sentir segura para trilhar o caminho!Motivos???VOCÊ TEM DE SOBRA!E hoje você tem de pertinho vários destes escancarados!Beijos,Fer!Amo você!

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    1. Owwwn!!! Fico mtooo feliz com o fato d vc estar feliz por mim! hahahaha Vc tem feito uma parte especial em td esse processo q eu estou vivendo agora. E tem feito uma diferença que eu ainda não soube demonstrar pra vc. Obrigada por me fazer tão bem! E por me encorajar de uma forma tão única a seguir em frente! Vc é um desses motivos de sobra! ;) Tbm amoo você, fia! bjao

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    1. =) Bunitinha vc!! hihihi
      Sugestão de música do dia da Lilah: Mapa-múndi (Thiago Pethit) http://www.youtube.com/watch?v=pXBIWw185oY

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  3. Que honra hem , feri ? devo imaginar a alegria ao ver esse diario , é tentar sentir o que sua mae sentiu ao te ter ; achei mega digno ;

    Sabe como é se sentir amado? Então, você pode achar meio bizarro ou idiota, mas foi assim que eu me senti acompanhando minha própria história .

    Você tem o meu respeito feri , bagaço aqui hem ;
    Mas você nao é amada só pela mamae nao , por nós tbm , don't forget it ; hahahaha linda s2

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  4. OOOwn! Obrigada, Debs!!! Mto gostoso sentir esse seu carinho!! Vc é uma bençã!!! hahahaha ;) Táqui no meu core

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